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Sobre o vazio e a lógica digital

  • Foto do escritor: Neto Dobrochinski
    Neto Dobrochinski
  • 14 de mai.
  • 2 min de leitura

Um dos traços mais marcantes no discurso de pacientes jovens e adolescentes tem sido um sentimento permanente de tédio, um não-sentir que toma conta do sujeito, paralisando a experiência de vida e relacionamentos (ou reafirmando a ausência destes). A forma como cada sintoma se forma num indivíduo é única, mas a recorrência do mesmo num determinado grupo nos leva a questionar tal característica como um sintoma social. Neste caso, quais seriam os determinantes sociais formativos do jovem adulto que o levam a essa vivência opaca e artificial da vida?


Um dos fatores que se percebem é a incidência de uma lógica digital no funcionamento da experiência humana. O uso desenfreado de smartphones, responsável pelo preenchimento imediato de qualquer tempo livre - e muitas vezes não tão livres assim, transpassam nossas exigências murchas de desejos reais para dentro da tela, ao invés de lidarmos com nosso próprio vazio, preenchendo nosso tempo em falso, na incapacidade de reconhecermos nossa falta.


Ao que parece, nossa experiência de vida perdeu influência sobre nós conforme ganhamos poder sobre a realidade a partir da tecnologia, que nos permite em certo nível mudar os estímulos perceptivos através de um simples celular. O tempo morto vira o tempo de passear numa infinidade de vídeos curtos, tempo de apenas deslizar perfis num aplicativo de relacionamento para a esquerda ou para a direita, sem jamais nos relacionarmos realmente com aquilo que vemos - e quantas horas se perdem nessa forma anestesiada de vida?



Talvez, se o vazio não possa ser sentido como tal, tampouco a experiência poderá ser vívida o suficiente, e apenas o momento em que realizarmos a experiência de que não somos nada será o momento em que finalmente conseguiremos ser alguma coisa ou mesmo alguém, parafraseando Calligaris.


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