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Rótulos para a vida: A cultura do autodiagnóstico

  • Foto do escritor: Neto Dobrochinski
    Neto Dobrochinski
  • 30 de jun.
  • 2 min de leitura

Nise da Silveira fazia ecoar que gente curada demais é gente chata. Penso que talvez a beleza da subjetividade esteja na loucura e na verdade própria de cada um.

 

Já há alguns anos, tenho percebido, porém, que ao invés dessa verdade própria, subjetiva, muito se disseminam nas redes sociais e na cultura de versões diagnósticas marcadas por símbolos pretensamente universais, sintomas vazios de história ou desprovidos de sentido, e sem muita relação com o indivíduo que o apresenta.

 

Aqui, preciso traçar algumas bases: obviamente transtornos existem; determinadas formas de sofrimento precisam de acompanhamento medicamentoso, mas – e talvez até mais do que isso, precisam ter um ser falante que não se reduza ao diagnóstico.

 

Nomear um sofrimento nem sempre é fácil, principalmente quando isso se confunde com tudo o que se é. Nisso, pode parecer um bom negócio se identificar quando surgem incontáveis vídeos sobre ansiedade, TDAH ou autismo, já que isso dá nome para algo antes desconhecido. O que se percebe, porém, é que muitas vezes esse reconhecimento inicial se atrela a uma não implicação real, que poderia representar uma tomada de ação para entender melhor e buscar ajuda profissional para uma avaliação formal.  Por vezes o que se desenvolve é uma assimilação e acomodação em relação aos sintomas com os quais se identifica. O que, por sua vez, gera um aprisionamento e aumenta a identificação com o sintoma, ao passo que reduz a crítica e a capacidade de se pensar para além do mesmo.

 

“Eu sou TDAH”, frase simples, mas que revela uma parte sendo tomada como o todo, vira um exemplo comum de como a definição de subjetividade pode ser baseada num transtorno ou sintoma, o que alimenta tanto uma identidade de grupo, como um mercado.

 

Nesse movimento, laça-se o ego e se perde o sujeito de vista, sem jamais se questionarem os determinantes subjetivos, sociais e culturais ligados as nossas formas de sofrer. Talvez, antes do carimbo, do laudo, seja interessante o processo de se debruçar de forma aberta as nossas queixas, pois se o rótulo pode funcionar como cola para os sintomas, falar em análise traz como possibilidade criar uma relação dialética com o sofrimento, descolando alguns sintomas conforme eles se fazem ouvir.


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