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Meu filho adolescente me odeia?

  • Foto do escritor: Neto Dobrochinski
    Neto Dobrochinski
  • 14 de mai.
  • 2 min de leitura

A adolescência talvez seja a fase da vida que passa por maior incompreensão, seja de si mesmo ou pelo outro. Mudanças corporais, hormonais, sociais obrigam o abandono de formas antigas e cobram uma rápida assunção de um novo eu, usualmente com maiores responsabilidades e deveres. Processo intermediário entre a infância e a vida adulta, a adolescência parece existir num não-lugar, sendo muitas vezes depreciada em seu significado e validade, sendo reduzida a ‘aborrescência’, o que surge como invalidação do processo, das queixas e anseios daquele o atravessa.


Se, na infância, os pais apresentam o mundo para a criança e com isso ocupam um lugar central em sua existência, e nessa idealização se supõe que os pais tudo sabem ou tudo podem, a adolescência carrega um longo processo de luto dessa idealização parental, e a percepção dos pais como faltantes (e reais, com erros e defeitos) alimenta um movimento difícil, mas necessário, de construção de uma própria visão de mundo e de si mesmo a partir de novas referências.


Os pais sentem, muitas vezes, a perda dessa idealização como perda do amor, mas isso não é necessariamente correto, já que pode ser o início de uma nova forma de relação, mais marcada pelas (im)possibilidades e características reais de cada um. Nesse ponto, os pais passam por um processo muito similar, ao precisarem se confrontar com os limites entre o filho idealizado e o filho real – o que nos leva a inverter a pergunta que dá título a este texto: você ama a adolescência do seu filho?


A busca por isolamento, a agressividade e/ou mudanças de comportamento estão comumente ligadas a excessos que não foram possíveis de serem simbolizados, no contraste com o tempo de elaboração do adulto, e muitas vezes os pais têm pressa para que o adolescente responda e cumpra suas expectativas, como se fosse algo óbvio. A conciliação entre os tempos dos pais e dos filhos, entre o eu e o outro, é gradual e sempre imperfeita. Isso ocorre, sobretudo, porque a construção da autonomia do adolescente só se dá ao custo de sua emancipação em relação aos ideais dos pais.





 
 
 

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